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E se, de repente, um (des)conhecido lhe oferecer bilhetes para a bola?

os bilhetes

Desconfie, pense duas vezes e depois corra a abrigar-se no buraco de toupeira mais próximo de si!!

Mas se, por “impulse”, decidir aceitar a oferta, assim como (ou) de uns equipamentos oficiais do seu clube do coração, então reze. Reze para não estar (você e/ou o “benemérito”) sob escuta, para não ser apanhado e para não o levarem para o “chilindró”!!

Com efeito, concretizar o sonho/desejo de assistir a um jogo “refastelado” nas poltronas de uma tribuna presidencial de uma qualquer “catedral” do futebol tornou-se uma actividade de risco. Uma actividade de risco que pode conferir o “direito” a uma investigação criminal, inclusive em Ministérios, à proibição de contactar amigos e colegas e até mesmo a prisão preventiva. E, porque a Justiça está cada vez menos cega, e nunca foi surda, parece não haver seguro que cubra/minimize os riscos desta actividade...

Na verdade, os bilhetes para a bola tornaram-se, aparentemente, numa espécie de valioso “bitcoin” (ou moeda virtual) das práticas de corrupção, parecendo ser capazes de levar os “aficionados” a colocar em causa o seu bom-nome, a sua carreira profissional e mesmo a sua liberdade pessoal.

E se pode parecer surreal (para não dizer ridículo) que alguém se deixe “compra”r a troco de uns meros bilhetes ou equipamentos de futebol, mais surreal é afirmar (ou tentar fazer crer) que a existência de um crime de corrupção, ou de tráfico de influências, depende do valor (simbólico, ou não) da contrapartida oferecida, e não da consumação do resultado pretendido pelas partes do “negócio” e que é punido pela lei.

E mais ridículo é lançar a suspeita que o Ministério Público e os Tribunais abrem processos de investigação e buscas sem indícios minimamente sérios e/ou que decretam prisões preventivas por “clubite”, ou com o objectivo de combater ou afectar a hegemonia desportiva de qualquer clube, seja ele qual for.

De qualquer forma, caso se confirmem as suspeitas/imputações das operações Lex e E-Toupeira, será caso para dizer que o SLB se conseguiu tornar quase hegemónico também ao nível do sector da Justiça, tendo conseguido “recrutar” Juízes, Advogados e Oficiais de Justiça para o seu quadro de “jogadores”.

Infelizmente (e aparentemente), tal hegemonia não se terá estendido a (ou sensibilizado) “atletas” do Ministério Público, da Polícia Judiciária e das polícias de investigação criminal, o que, no contexto da (eventual/alegada) intenção da prática de crimes, constitui uma lacuna incontornável do “plantel”, bem como uma falha imperdoável do departamento de “scouting” do clube da Luz.

Por tudo isto, note que, se um (des)conhecido lhe oferecer bilhetes para a bola, pode não ser apenas “impulse”...