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Conto-do-vigário

Passadas três semanas após as eleições autárquicas, que muito influenciaram as lides partidárias, com particular evidência para o PSD e com repercussões na própria constituição do Governo Regional, com três saídas de secretários regionais (supostamente uma voluntária e outras duas forçadas) e outras tantas entradas, verificamos que as mudanças aconteceram e como diz o poeta, «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / Muda-se o ser, muda-se a confiança / todo o mundo é composto de mudança, (...)», mas algumas delas trazem “água no bico”.

E, assim, interrogo-me sobre qual o verdadeiro motivo que levou o presidente do Governo Regional a forçar a saída de secretários? Podemos especular, mas não passarão disso mesmo: especulações e suspeitas! Se estas mudanças são mais um “tiro no pé”, o tempo o dirá. Importante é ter bem a noção de que a ética deve pautar as opções e decisões políticas de qualquer governante. Se esse não for o princípio ético e orientador deste governo, então caberá ao Povo dar resposta no próximo ato eleitoral em 2019. Porque, de promessas e de governação elitista está o Povo farto! Na política não vale tudo. E as pessoas estão (e muito bem) cada vez mais esclarecidas e não se deixam levar em “contos-do-vigário”!

Um “conto-do-vigário”, mas diga-se, mal contado, são as constantes histórias para se proceder ao adiamento das construções das escolas básica e secundária do Porto Santo e da Ribeira Brava. Pelas promessas feitas, tanto pelo presidente do Governo Regional, como pelo Secretário da Educação, estas escolas já deveriam estar construídas ou em fase de conclusão. Na prática, prometeram-se e definiram-se prazos, datas, mas nada foi feito - tal como era hábito no passado. Os alunos continuam a ser penalizados, bem como os professores e restante comunidade escolar destes estabelecimentos de ensino. Sabemos que tudo leva o seu tempo, mas que não se minta aos alunos, às famílias e a toda a comunidade escolar, sabendo atempadamente que não será possível cumprir o que se diz. Este é um modus operandi que já não tem qualquer aceitação por parte da população. Exige-se a verdade, a honestidade e a concretização do prometido!

Além deste conto mal contado, temos as situações de falta de medicamentos no hospital, as péssimas instalações do hospital dos Marmeleiros, a falta de material médico, diria mesmo, de material básico e essencial para que o doente tenha um atendimento com a dignidade que merece. Tudo isto, o Governo Regional não reconhece e diz que se tratam de situações pontuais. E para se desculpar, lá vem um “conto-do-vigário”. Há sempre desculpas para aquilo que é indesculpável, num setor tão prioritário para a população. O Governo Regional ainda não reconheceu que as suas prioridades de governação estão invertidas. Gastar milhões de euros no betão, milhões de euros nas Sociedades de Desenvolvimento, milhões de euros nos (três) clubes de futebol profissional, juntamente com a associação de futebol, não é apostar em setores prioritários para a população. A educação e a saúde são setores prioritários em qualquer sociedade. E não vale a pena atirar as culpas para o Governo Central, para o Estado, quando não se consegue resolver aquilo que se prometeu à população em período eleitoral, em 2015. Já diz o povo: “quem não pode, não se ajuda”.

E para ratificar a lógica de incoerência deste Governo, basta ver a entrevista do Presidente do Governo Regional, no programa “Em Entrevista”, na RTP Madeira, durante a qual afirma que os secretários que saíram ou foram dispensados do Governo - porque o senhor Presidente do Governo assim o quis – fizeram um trabalho extraordinário, notável!! No entanto, como consequência do seu bom desempenho e como “prémio de mérito” para estes secretários, foram mandados embora do Governo... E assim se conta mais um “conto-do-vigário”.