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Catalunha vista de cá... (2)

Normalmente não volto ao mesmo tema, mas como o feedback e a confusão em torno deste assunto foi tanta, resolvi voltar. Em primeiro lugar gostaria de fazer uma correcção relativamente ao texto anterior. Referi-me à Catalunha como sendo um principado, mas a realidade é que a Catalunha nunca foi um principado, mas sim um conjunto de territórios geridos pelo conde de Barcelona.

A Catalunha nunca foi uma nação per si. Se entendermos uma nação como um território geograficamente delimitado e habitado por uma colectividade com história e organização política própria, cujos indivíduos estão unidos por uma identidade de origem e cultura comum, podemos facilmente entender que a Catalunha não reúne estas premissas. A região que hoje conhecemos como comunidade autónoma da Catalunha, era composta por diversos territórios dispersos geridos pelo conde de Barcelona, que no século XII, ao casar-se com a filha do Rei de Aragão viu a fusão dos seus territórios com o Reino de Aragão. Foi o resultado deste acordo que permitiu aos condes de Barcelona continuarem com a gestão daquela região, mas como é óbvio, que o faziam de acordo com as leis do reino de Aragão. Portanto, isto de querer dizer que a Catalunha é uma nação, tem de ser visto de um ponto de vista tão alargado que qualquer teoria caberia aí.

Outra confusão muito grande prende-se com a questão da suposta repressão da parte do governo central para a comunidade autónoma da Catalunha. Ouvimos muito nos telejornais os pró-separatistas a dizer que se sentem oprimidos por não lhes darem o direito a decidir o seu futuro. Como podem pedir um direito que o Tribunal Constitucional já lhes disse ser anticonstitucional? Isto é como um ladrão a reclamar por não ter o direito de roubar. Como podemos reclamar um direito que está proibido na lei? O conceito e o direito à autodeterminação refere-se ao direito dos povos e seus cidadão em se realizar politicamente, votar em eleições democráticas e participar nas instituições. E esse direito a comunidade autónoma da Catalunha tem. O que não podem pedir, é que os deixem colocar em causa a integridade de um Estado de direito e democrático, que foi inclusivamente construído com a contribuição dos catalães. A Catalunha, bem como as restantes comunidades autónomas em Espanha, foi chamada para se pronunciar em todas as convocatórias eleitorais, sendo que estão representados no poder central e em muitas instituições estatais. Portanto, depois de ajudarem a desenhar e aprovar a lei, não podem agora vir dizer que essa mesma lei já não lhes serve.

Por fim, e talvez a maior das questões que me têm feito sobre este assunto, prende-se com o entendimento de que é a Catalunha que alimenta o país e que seria muito mais rica se fosse independente. Que a Catalunha é uma região rica, é certo, mas não é de todo a região que mais contribui para o PIB Espanhol. É óbvio que não podemos ver a questão económica de forma isolada. As empresas que têm a sua sede fiscal na comunidade autónoma, e cuja indústria está aí implantada, goza de sinergias e estímulos por fazerem parte de um país que está de pleno direito no espaço económico europeu. Se mudarmos essa premissa, as variáveis vão alterar o resultado da equação. Os bancos foram logo os primeiros a sair. Outras 40 empresas (médias e grandes) também já alteraram a sua sede social e fiscal. Algumas grandes industrias já falam inclusivamente em deslocalizar a produção. Isto significa que a comunidade já começou a perder de forma irreversível parte importante do seu sector financeiro e industrial. Por isso afirmei e volto a salientar que a independência da Catalunha seria um suicídio económico e financeiro para a região.