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Bustos e Embustes

Já fui confrontado com “peças” que me pareceram ser de muito pior qualidade

Fruto de muitas críticas e graçolas, o busto de Cristiano Ronaldo instalado no aeroporto tem “corrido mundo.” Na verdade, falou-se e discutiu-se mais sobre ele do que sobre a verdadeira – e relevante – questão de fundo, ou seja, se esta homenagem, que é sem dúvida merecida, se revela, ou não, adequada.

São os embustes desta “sociedade facebook” em que vivemos...

Pela minha parte, e pouco percebendo de arte e, em especial, de escultura – o que me coloca em pé de igualdade com 99,99% das pessoas que comentaram a obra –, acho as críticas profundamente injustas.

Em primeiro lugar, se se pretendia um “clone” do original, bastava afixar um poster ou uma fotografia numa das paredes da infra-estrutura, poupando-se no gesso e no bronze. Melhor ainda, tinham-se encontrado uns “sósias” do atleta e “especavam-se” os mesmos em permanência nas portas do aeroporto, em substituição, por exemplo, do lobo marinho gigante que lá reside há anos.

Por outro lado, e com tudo o que isto tem de subjectivo, já fui confrontado com “peças” fantásticas, da autoria de artistas “geniais” e de valor “incalculável” que me pareceram ser de muito pior qualidade e verdadeiramente indecifráveis. Mas claro está, quando o autor é de renome, aquilo que, em condições normais, seria o resultado de um acidente ferroviário, da ingestão desregrada de bebidas alcoólicas e/ou do consumo massivo de substâncias psicotrópicas transforma-se numa “obra-prima” (não confundir com a “prima do mestre de obras”).

Por último, e sendo verdade que o principal objectivo da mudança de nome do aeroporto consistia na divulgação da Madeira, é caso para dizer que o busto assegurou, quase por si só, essa missão. Em concreto, as – poucas – pessoas no Mundo que ainda não conheciam o CR7 passaram a conhecer, e que as que não sabiam que o mesmo é natural da Madeira, passaram a saber.

Assim sendo, e apesar de não ter o prazer de o conhecer, não posso deixar de dar os parabéns ao autor, expressando solidariedade e consideração genuínas para com o mesmo.

Sozinho, e com um “singelo” busto, não só fez quase tanto pela promoção da Madeira como o próprio Cristiano Ronaldo, como já fez muito mais do que outros que são pagos especificamente para o fazer.

Para além do mais, tornou-se, provavelmente, no artista Madeirense mais conhecido e mais falado de todos os tempos. Com excepção de alguns golos do CR7, nunca uma obra de um autor regional foi objecto de tamanha divulgação, ou causou tanto “frisson”.

E o mais impressionante é que conseguiu fazê-lo dedicando-se a uma paixão e mantendo a genuinidade e a humildade que revelou quando foi confrontado com as duras críticas de que a sua obra foi alvo, revelando tristeza, mas mantendo a educação e não ofendendo quem o desconsiderou.

Emanuel Santos: esperando que permitas que te trate por “tu”, nota bem que o que fizeste e sentiste ninguém te pode tirar!! A esmagadora maioria das pessoas que te criticaram, para além de não saberem do que estão a falar, nunca fizeram, nem nunca farão, nada porque possam vir a ser publicamente reconhecidas ou lembradas.

E assumindo que as duas únicas obras da tua autoria que se encontram em exposição pública foram remuneradas por quem as encomendou – o que não sendo relevante, seria de elementar justiça –, lembra-te que Van Gogh só vendeu um quadro em vida...

Correndo o risco de estar a cair num embuste, acredito que daqui a não muito tempo o Porto do Caniçal vai passar a chamar-se “Porto Emanuel Santos”.

E quando assim for, o busto voltará a ser o teu!!