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Autonomia por onde andas?

Corre-se o risco da palavra Autonomia ser banida da linguagem corrente

Cada vez sinto que falar de Autonomia pouco diz às pessoas, e ainda menos se forem jovens. A memória de muita gente é curta, e a história mais recente de Portugal é mal contada nas escolas às novas gerações. Corre-se o risco da palavra Autonomia ser banida da linguagem corrente, porque os seus efeitos deixaram de ser visíveis na vida real das pessoas.

Passaram-se 41 anos e muita gente esqueceu-se do que era a Madeira antes de ser conquistada a Autonomia. Dependíamos, em tudo, do poder central que nos tratava como se fossemos uma colónia, ou pior ainda, porque não tínhamos riquezas para nos sugarem, como faziam, por exemplo, em Angola ou Moçambique. Para tirar qualquer documento, comprar algum artigo mais especializado, até livros e material informático, tínhamos que ir ao Continente.

Os sindicatos não podiam negociar os Contratos Colectivos de Trabalho sem ter cá alguém de lá. Não tínhamos Serviço Regional de Saúde, até para socorrer um AVC ou fazer um diagnóstico mais aprofundado de um problema cardíaco, tinha que ser fora da Madeira.

Com a Constituição da República Portuguesa, aprovada em 1976, instituiu-se a descentralização de poderes e permitiu-se que na Madeira ficassem as receitas dos nossos impostos, que passaram a ser geridas pelo Governo Regional. Desde então, e ainda que eu seja muito crítica da forma como muitos desses impostos foram geridos, muitos avanços tivemos na nossa terra, que só foram possíveis graças à Autonomia conquistada em 1976 e à luta reivindicativa que nunca parou e que confrontava o governo regional com propostas concretas. Muita mobilização foi feita para conseguirmos os nossos direitos autonómicos, dentro e fora do Parlamento. Foi uma luta persistente e muito árdua mas que valeu a pena.

Ficamos mais autónomos e tivemos benefícios por vivermos numa terra insular e com poucos meios. Criou-se o subsídio de insularidade para quem trabalha no sector público e o acréscimo ao salário mínimo para quem trabalha no privado, o que influenciou todos os restantes salários. Criou-se habitação social, fez-se estradas que encurtaram distâncias, reduzimos os impostos como o IRS, IRC, etc, etc...

Então pergunta-se: porque deixámos que muitas destas conquistas voltassem atrás? Porque nos sentimos outra vez tão dependentes do poder central quando até queremos fazer uma reclamação ou pedir uma informação, as operadoras vão bater todas ao Continente? O que fizeram os governantes eleitos maioritariamente pelo povo para nos governarem? Alguns saíram de mansinho e continuam gozando os seus rendimentos. Outros andam pelo País, lançando o veneno da sua “razão”. E outros continuam sem se comprometer, continuando a pensar que na Madeira existe uma cambada de idiotas que lhes vão dar o poder eternamente.

As novas reivindicações da Autonomia, como o novo hospital, a ligação marítima ao Continente, a reposição dos impostos roubados, a construção de mais habitação social, etc, etc... os governantes regionais remetem todos para o Continente. Então para que serve a Autonomia e para que servem os nossos impostos?

Eu sempre me considerei uma Autonomista convicta, e se calhar é por isso que não desisto de um dia ver uma mudança a sério nesta Terra e a Autonomia voltar a ser dignificada, voltando a ter sentido perante todas as Pessoas.