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As eleições em primeiro

Quando acaba um ato eleitoral, surge de imediato uma nova estratégia com vista às próximas eleições. Primeiro a análise, depois as consequências. Os partidos, muitas vezes ainda a quente, reúnem os seus quartéis-generais para tentarem descobrir o que correu mal ou para descobrirem como dizer que saíram vencedores, até porque é difícil aceitar a derrota. Estou a recordar-me de umas eleições autárquicas em que o PS foi derrotado e o líder de então confrontado com o resultado, respondeu mais ou menos desta maneira: “De facto tivemos uma derrota no Funchal, diminuímos em muito o número de eleitos, mas na Serra D’Água elegemos uma pessoa para a Assembleia de Freguesia...”. Vejamos o que se passou na “minha” realidade. O PSD diz que ganhou porque recuperou a Câmara do Porto Santo e a de São Vicente, onde não concorreu, mas encostou-se a um grupo de independentes, ou seja não fazia parte de uma qualquer coligação, esquecendo-se que perdeu a Câmara da Ribeira Brava e a da Ponta do Sol, para além de ter baixado quer em número de votos, quer em número de mandatos em quase todas as restantes freguesias. O CDS diz que ganhou porque aumentou a sua presença no concelho de Santana, mantendo a sua presidência e que se encostou a uma lista de independentes na Ribeira Brava e em São Vicente, sem qualquer coligação e perdendo eleitores em toda a Região, nomeadamente no Funchal. O PS diz que ganhou porque perdeu a Câmara do Porto Santo e ganhou a Câmara da Ponta do Sol, teve uma subida espetacular no Porto Moniz, onde conquistou todas as juntas de freguesia manteve as restantes Câmaras onde concorreu sozinho ou em coligação, salientando-se a Câmara do Funchal, onde concorreu em coligação, conquistou a maioria absoluta e reforçou as Juntas que já eram suas, sem esquecer Machico onde todos apostaram na derrota do PS, mas que Ricardo Franco teve o engenho e a arte para sair reforçado. Na Calheta pela primeira vez o PS conseguiu eleger um vereador. O número total de eleitores aumentou em muito.

Contudo, se analisarmos mais cuidadosamente os resultados chegamos à seguinte conclusão: o PS perdeu uma oportunidade histórica para estar em maioria nas Câmaras Municipais da Região. Para isso bastaria que a liderança do PS tivesse metido ordem no Porto Santo, onde o principal responsável pela sua derrota por meia dúzia de votos era Presidente da Assembleia Municipal e militante do PS. O líder do PS/M foi várias vezes à ilha dourada, mas parece que não teve capacidade de diálogo para resolver o diferendo que houve desde o início do mandato entre a Presidente da Assembleia e o Presidente da Câmara. Com a divisão do principal adversário, o PSD, deveria ter sido fácil manter a Câmara. O PS poderia se ter aliado a Ricardo Nascimento na Ribeira Brava, tendo falhado uma estratégia que conduziu à perda do único mandato que o PS/M tinha naquele concelho, ou seja, ficou reduzido a zero. Em Santana e Santa Cruz, a estratégia falhou redondamente, neste dois concelhos que em tempos discutimos a liderança e em Câmara de Lobos teve uma baixa bem grande. A atuação da direção do PS/M foi muito fraca em todo o lado, salientando-se no Funchal, onde o líder pouco ou nada fez, limitando-se a aparecer, praticamente, quando estiveram presentes figuras nacionais, notando-se um distanciamento demasiado grande em relação a Paulo Cafôfo. Aliás há quem diga que talvez tenha sido esse um dos segredos da vitória...

Sem dúvida que nos concelhos em que o PS/M saiu vencedor, salientamos a atuação dos candidatos, nomeadamente no Porto Moniz onde Emanuel Câmara passou de 3 para 4 mandatos e deu um “rapa” nas Juntas de Freguesia, significando a confiança do povo deste concelho no trabalho notável pelas pessoas, feito por aquele presidente e a sua equipa. Em Machico, como já dissemos Ricardo Franco, apesar de muito limitado pela divida herdada, segurou bem o leme no rumo do concelho. Na Ponta do Sol temos que salientar todo o trabalho feito pela Célia Pessegueiro e por toda a estratégia do seu marido Vitor Freitas. Talvez tenha sido a maior surpresa, o que demonstrou que é sempre possível vencer... Enfim, um resultado que poderia ter sido de 4 Câmaras sozinho + duas em coligação e muito melhores resultados nos concelhos de Santana, São Vicente e Câmara de Lobos...

De salientar ainda que o PCP perdeu o vereador que tinha no Funchal, talvez como castigo pelo seu individualismo na Madeira, assim como pequenas coligações e outros partidos que se julgavam mais fortes do que na realidade eram, ficaram sem qualquer representação.

Como resultados já temos a remodelação do Governo Regional e mais um candidato à liderança do PS/M no congresso que se deve verificar no princípio do ano, adivinhando-se mexidas nos outros partidos que entretanto reunirão os seus órgãos máximos. Esperemos que escolham os melhores para a Madeira, pois para além de necessitarmos de um governo capaz, também precisamos de uma oposição competente e que não impere o “princípio de Peter, em que os bons são promovidos até à sua incompetência”.