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Absentismo no trabalho

Há uns tempos que não ouço falar no absentismo ao trabalho, tema que de vez em quando vem à baila e sempre com a ideia de chamar nomes aos trabalhadores, esquecendo-se, muitas vezes da contribuição do chamado serviço público para isso.

Há empresas que se preocupam em demasia com o despedimento do pessoal, sem pensarem na qualidade do mesmo serviço.

Vejamos alguns factos concretos: Os CTT, depois de privatizados pelo Governo anterior, despediu muitos trabalhadores em todo o país, chamando-lhe de reestruturação da empresa e agora, penso eu, deve começar em obras para diminuir o número de balcões que tem, por exemplo na Avenida Zarco, porque não há pessoal que chegue para ocupá-los a todos.

É frequente chegar a este organismo privado de serviço público e esperar uma hora para sermos atendidos. Já apresentei reclamação no respetivo livro, mas até hoje não obtive qualquer resposta. Como não quero ser mauzinho, vou reduzir para metade aquele tempo médio de espera, ou seja para meia hora.

Segundo fui informado o número médio de pessoas a serem atendidas naquela estação é superior a seiscentas, mas por comodidade de contas vamos arredondar para a seis centenas. Assim sendo, aquela quantidade de utentes “perde” mais de trezentas horas, que divididas por 8 horas de trabalho correspondem a 37,5 dias por cada dia útil. Se considerarmos que está aberto 275 dias por ano (descontamos os Domingos, ½ Sábados e uma dúzia de feriados), teremos um resultado interessantíssimo de dias de abstenção ao trabalho por espera nos CTT da Zarco: 275 x 37,5 = 10.312,5 dias por ano!!!!! Note-se que diminuiu o número de horas de atendimento, passando a fechar, durante a semana às 19 horas em vez das 20, como era habitual, obrigando o pessoal a atender maior numero de utentes por hora.

Se fizermos contas idênticas aos bancos (ainda há dias estive quase uma hora para ser atendido na caixa do banco público – mas os privados não são melhores), no serviço de saúde, Segurança Social e ADSE na Rua das Pretas, serviços de saúde espalhados pela ilha, chegaremos a uma conclusão que se calhar, espera-se mais do que se trabalha e neste caso não podem acusar os trabalhadores porque são eles as principais vítimas, pois fazem-se contas à produtividade e tudo cai em cima deles. Além disso os trabalhadores dos próprios CTT têm que atender muitos mais utentes, como já referimos atrás, e alguns com muito tempo de atendimento – basta ver o tempo que demora a atender uma pessoa que vai pedir o reembolso das viagens, a partir da brilhante imaginação deste Governo Regional. Despediu-se pessoal para chegarmos a isto? Era esse o objetivo da privatização: Diminuir pessoal e pôr o utente a “secar” mais tempo?

Isto está a caminhar de tal maneira, que chamamos à atenção das Atividades Económicas e da Camara do Funchal para passarem a exigir instalações sanitárias como fazem, e bem, aos restaurantes. É porque se a pessoa tem uma necessidade fisiológica e tem de ir fora, quando chegar poderá ter perdido o seu lugar....

Até agora a privatização deste serviço público, só serviu para encher os bolsos aos proprietários e nada melhorou para o utente, pois as cartas e encomendas continuam a ter muito tempo de entrega e curiosamente já aconteceu comigo fazer uma reclamação de uma entrega e acabarem por fazê-la nesse mesmo dia. Faltou saber quantos dias demoraria mais se não fizesse a reclamação. Um outro aspeto negativo: O dinheiro da privatização serviu para tapar buracos e gora todos os anos são “exportadas” as verbas provenientes dos lucros, uma vez que a sua venda foi feita e estrangeiros. Poderão chamar a isso, investimento estrangeiro, mas acho que é uma sangria de dinheiro para fora do país. Se fosse um novo investimento e que criasse novos postos de trabalho, seria bem vindo, nas vender o que temos é perder património.