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A verdade da mentira

“Como pode ser facilmente “googlelado”, a aquacultura (isto é, a produção de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis e plantas aquáticas para uso do homem) é praticada desde tempos imemoriais, existindo registros de que os chineses já a conheciam vários séculos antes de nossa era e de que os egípcios já criavam a tilápia-do-nilo há cerca de 4.000 anos.

Atualmente, a aquacultura é responsável pela produção da metade do peixe consumido pela população mundial e tem sido um dos segmentos de crescimento mais rápido da produção alimentar global, ostentada como uma resposta para os problemas resultantes da diminuição das populações selvagens de pescado, devido à sobrepesca e a outras causas.

Ao contrário da Ásia, onde são criados 90% dos peixes de aquicultura e onde a poluição daí resultante (uma mistura pútrida de azoto, fósforo e peixes mortos) constitui um perigo generalizado, e onde, para manterem os peixes vivos em jaulas densamente povoadas, é comum se utilizarem antibióticos e pesticidas de uso proibido na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, interessa-nos aqui na Região a criação de aquacultura de qualidade, diversidade e sustentabilidade.

Embora as jaulas na Madeira estejam localizadas na costa sul e relativamente perto da costa, protegidas dos regimes de agitação de norte, que as podem danificar, as ondas que as banham podem atingir seis metros de altura ou mais. É esta agitação da água que contribui para evitar a poluição e as doenças que poderiam surgir nas águas paradas.

Decorrente das excelentes características presentes na Região, não há necessidade de tratar os peixes com antibióticos, não sendo normalmente detetados quaisquer vestígios de resíduos de peixe fora das jaulas, suspeitando-se mesmo que os resíduos diluídos na água sustentem o plâncton subnutrido, uma vez que as águas do mar alto são pobres em nutrientes.

As espécies aqui criadas não só contêm, em cada jaula, populações com densidade inferior da unidade típica de aquicultura de espécies (como a salmonífera), como também estão sempre em agitação, resultantes das correntes e ondulação presentes nas águas profundas que cá existem. Aliás, a dourada da Madeira é afamada por ser um peixe de carne firme, relacionado com o facto das jaulas se localizarem num mar mais batido do que, por exemplo, o mediterrânico.

Sim, as jaulas poderão ser avistadas de alguns pontos da costa (se bem que as que estão previstas para a Ponta do Sol localizar-se-ão 4 (quatro) vezes mais afastadas das já existentes na Ribeira Brava, por causa da batimetria daquela zona da costa), mas será assim tão danosa tal visão?

Custa a crer que o governo central faça bandeira da sua forte aposta na Economia Azul e nos 80 milhões de euros que dedicou à aquacultura no seu Programa de Governo, governo esse liderado pelo mesmo partido da Senhora Presidente da Câmara da Ponta do Sol, mas que esta, afinal, a prefira ver “no quintal do lado”.

É por tudo isto que, estou em crer, se estão a criar conscientemente falsos alarmes na população, em prol de objetivos políticos de índole questionável.”