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A máscara da geringonça

O Bloco de Esquerda pode muito bem colocar a sua máscara moralista, mas este Verão tem contribuído para expor tanta da hipocrisia desse partido. Desde o caso do vereador/especulador Ricardo Robles até à farsa insustentável da sua pseudo-crítica ao governo socialista. Aquele mesmo governo do PS que o Bloco apoia nos momentos chave, seja no parlamento seja fora dele através de vozes municipais.

Eis que esta semana o coordenador regional do Bloco publica neste jornal um artigo de opinião simultaneamente fabulístico como perigoso (“Desparasitar a Madeira”, Paulino Ascenção, DN-M 22.8.2018). Apresenta o Bloco como a “melhor cura para a maleita”, prometendo livrar-se da “praga de parasitas”. Substitua a “burguesia” que o Bloco madeirense pretende “desparasitar”, pelo termo “judeus”, e terá uma tradução integral de milhares de artigos fascistas escritos entre 1933 e 1945.

Será que o Sr. Coordenador do Bloco na Madeira não reteve as aulas de História na escola? Não se recorda de quem utilizava terminologia associada ao conceito de “parasitas” para descrever os grupos sociais contra os quais o regime instigava a população? Não, caro leitor. Tenho grandes dificuldades em acreditar que os supostos intelectuais bloquistas tenham falta de conhecimento histórico. Afinal de contas, apresentam-se sempre como os arautos do saber.

Não, este não foi um mero lapso. Só pode ser outra coisa. E essa “coisa” é ainda mais esclarecedora.

É daqueles momentos em que se vislumbra a real cara bloquista: o populismo que incita ao ódio. Pelas palavras dos menos habilidosos ilusionistas do Bloco conseguimos ver então os verdadeiros intuitos programáticos do seu partido. Afinal de contas, qual a diferença entre o slogan “Drain the swamp” (“drenar o pântano”) utilizado por apoiantes de Trump, e o “Desparasitar a Madeira” do coordenador bloquista madeirense? Zero. Os extremos tocam-se. Sempre.

O Bloco cada vez mais se apresenta ao público como “fazedor de reis” e essa nova função traz consequências para a nossa democracia. Seja no governo central apoiando os orçamentos e pedindo um preço aos socialistas cada vez mais exorbitante por esses serviços. Seja nas câmaras municipais, como é o caso do Funchal.

São estas as companhias prediletas do atual executivo da Câmara Municipal do Funchal. Companhias que se consideram acima de outros. Aos “outros” – leia-se, a oposição no Funchal, que como partido interclassista integra também a classe média (que o coordenador apelida de “burguesia”, saído diretamente do seu manual marxista) - não é concedido o respeito que democraticamente merece. Porém, reduzir todos os comportamentos democraticamente duvidosos à esfera de influência do Bloco seria menosprezar o PS, certamente. A realidade será ainda pior. Isto porque o antigo PS – atlantista e europeísta – já há muito que sofreu mutações populistas na geringonça.

Devíamos agradecer os elucidativos artigos de opinião como os do coordenador regional do Bloco, porque fazem cair ainda mais a máscara daquilo que é a verdadeira cara do projeto da geringonça para a nossa cidade, a nossa região e o nosso país. Um projeto que visa ganhar o poder a todo o custo através de uma linguagem e de medidas populistas.