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A Guerra comercial de Trump

Tal como qualquer ataque militar, uma guerra comercial é uma estratégia de ataque potencialmente muito destrutiva mesmo que não seja acompanhada por ações militares, porque os seus efeitos podem ser devastadores e as suas consequências podem se fazer sentir no longo prazo. No seu estilo direto e prepotente, ao qual já estamos habituados, Donald Trump está a declarar uma guerra comercial à União Europeia e à China. As suas intenções são claras, mesmo estando camuflado com o slogan America first e com o pretexto da segurança nacional. Mas o camuflado é mau porque deixa bem visível a verdadeira intenção de protecionismo excessivo e ilustra a sua desconsideração perante países que sempre foram amigos dos Estados Unidos. A estratégia da administração Trump é muito preocupante porque não respeita alianças, aliados, nem tem qualquer preocupação com a estabilidade económica mundial.

Desde o início do ano que os Estados Unidos e a China iniciaram negociações para equilibrar as balanças comerciais. Por se tratarem de dois pesos pesados, as negociações não têm sido fáceis e têm sido recheadas de avanços e retrocessos. As últimas rondas de negociações deixaram os Estados Unidos em clara desvantagem porque a China ameaçou limitar a compra de dívida americana e desvalorizar o Yuan. O presidente Trump não se pode esquecer que a china é o país estrangeiro com maior percentagem da sua dívida pública. Estas armas, se utilizadas pela China em simultâneo e de forma rápida, deixariam o dólar de rastos e provocaria uma queda significativa nos mercados financeiros e na economia norte americana.

Como não tiveram supremacia nas negociações com a China, os Estados Unidos já se viraram contra a Europa, Canadá e México, aumentando as taxas nas importações de aço em 25% e em 10% nas taxas para a importação de alumínio. O modus operandi é típico desta administração, deixando todos muito confusos com este aumento de taxas, porque anteriormente já haviam decretado a suspensão dessa ameaça para os bens e para os países que acabaram por castigar. Esta jogada dos Estados Unidos irá provocar um efeito simétrico no outro lado da barricada e desencadeará naturalmente aumentos nas taxas para os produtos importados aos Estados Unidos por parte dos vários estados membros da União Europeia. Esta instabilidade já deu os seus primeiros sinais de debilidade na economia europeia, com a queda dos pedidos fabris na Alemanha e com a queda nos indicadores de confiança dos investidores um pouco por toda a europa. Segundo um estudo recente do Banco Central Europeu, se estas retaliações comerciais tomarem dimensões mais abrangentes e se representarem um aumento nas taxas de 10 pontos percentuais em todas as importações de forma bilateral, o impacto negativo no crescimento dos Estados Unidos seria na ordem dos 2,5% e a Europa ficaria afetada no consumo e no investimento, pondo em causa o fim do programa de estímulo e o crescimento das economias mais débeis da união.

Esta guerra comercial desencadeada pelo protecionismo de Trump, não faz sentido nenhum, porque a balança comercial nem é um bom indicador económico. Durante várias décadas, os Estados Unidos tiveram uma balança comercial negativa e isso não impediu que continuassem a liderar a economia mundial, mantendo inclusivamente um desemprego muito baixo. Esta guerra comercial com base no aumento nas taxas das importações não irá proteger as empresas americanas, bem pelo contrario, irá afetar negativamente os seus resultados e irá aumentar a taxa de desemprego. Mas o pior de tudo isto, é que o impacto negativo não será unicamente nos Estados Unidos, mas também no resto do mundo, o que trará novos temores e aumentará a incerteza na economia global.