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A Branca de Neve e os sete anões

Certamente estão todos recordados daquele que foi o primeiro e, talvez, o mais famoso filme da Disney, com aquela frase idiomática: ‘’Espelho, Espelho Meu, existe alguém mais bela do que eu?’’ Vem esta analogia a propósito da dicotomia entre o “ser” e o “parecer”, entre o superficial e a realidade. É nesta dualidade que reside a salutar dialéctica política, em especial em democracia. Permitam-me ilustrar com sete exemplos bem claros das áreas tuteladas pela Secretaria da Inclusão Social:

1.A Madeira tem a mais alta taxa de desemprego do país, 12,5% (Açores 9,3% e Continente 10,1%), dados oficiais. Tem, também, a mais alta taxa de desempregados sem subsídios (66%), contra os 35% dos Açores e os 53% do Continente.

Felizmente, o desemprego tem vindo a descer mas é na Madeira que menos desce, 14,4% aqui contra 20% no Continente.

Paralelamente, a já habitual actuação restritiva da nossa Secretaria da Inclusão em relação ao RSI (Rendimento Social de Inserção da Segurança Social) só permite apoiar 4.289 madeirenses e 1.822 famílias, números distintos dos Açores onde uma Secretaria mais “inclusiva” apoia 18.161 açorianos e 6.158 famílias, dados oficiais.

2. A Concertação Social, em tempos tão apadrinhada por Jardim, é agora uma réstia do que já foi. Surgem críticas à inspecção do trabalho e muitos empresários condenam a nova prioridade das obras públicas. Vários técnicos condenaram a desarticulação existente no Programa Regional de Emprego, elaborado à revelia das empresas e sem a necessária sustentação financeira. Alguns até o classificaram de “Lixo” na comunicação social!

As últimas estatísticas sobre o salário médio dos madeirenses reportam-se, apenas, ao ano de 2014, ao contrário do que sucede no território continental onde há publicações todos os anos. Pelo andamento lento da economia regional, em contra ciclo com os dados nacionais, podemos concluir que a Região estará muito longe da média dos 838 euros de salário líquido mensal auferidos pelos continentais.

3. Resultado de tudo isto? A resposta foi dada a 4 de Maio por Fátima Aveiro, responsável do Banco Alimentar Contra a Fome na Madeira, “Em 5 anos na Região, o Banco Alimentar passou do apoio a 1.600 pessoas para 10.078”. Estes números foram de imediato elogiados pela Secretaria mas perceberam o ridículo que caíram em elogiar um número que revela uma das formas de exclusão social mais humilhante, a incapacidade de se alimentar e alimentar os seus.

4. O número de madeirenses que espera por uma vaga em lares na Região é oficialmente de 663. Sabemos que muitas famílias já nem tentam a inscrição nessa lista por não receberem resposta. Resta o sobrecarregado programa de apoio domiciliário que infelizmente não é resposta para famílias cujos idosos solitários têm filhos nos empregos e netos nas escolas.

5. Nos hospitais da Região pernoitam todos os dias 515 madeirenses não doentes, mais 48 do que há um ano, dados oficiais. Não porque tenham uma pneumonia ou uma fractura ou inclusive recuperem a de uma cirurgia. Pernoitam lá porque não têm um lar onde viver ou uma família que os acolha. Estas altas problemáticas ocupam 48% das camas dos hospitais. Este não é um problema para os Secretários da Saúde resolveram mas sim para quem tem a tutela do apoio social. E aí nada acontece.

6. Os incêndios do passado Verão demonstraram que a Secretaria que tutela a Protecção Civil Regional não tomou medidas preventivas adequadas, não soube coordenar o combate com as entidades concelhias nem evacuar a tempo as populações acamadas e mais frágeis dos locais afectados. Os prejuízos e as fatalidades mais uma vez aconteceram mas não houve ninguém, ninguém, com a hombridade de assumir a responsabilidade política, muito ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na tragédia da ponte de Entre-os-Rios.

7. As responsabilidades por estas situações têm sido atribuídas a Lisboa, a governos pretéritos e inclusive à Constituição. Pois bem, é caso para perguntar como é que um governo que prometeu um novo relacionamento com a República quer, agora, continuar a culpar Lisboa por tudo o que de mal é feito nesta Região? É também caso para questionar se, dezenas de palestras em auditórios, aberturas de telejornais ou outros tantos folhetos, ou mesmo centenas de anúncios na imprensa, substituem uma política mais discreta e humilde, mas mais inclusiva e verdadeira?