Análise

Pedro Passos Coelho rende votos ao PSD/M?

O ex-primeiro-ministro já confirmou a sua presença no Chão da Lagoa, para participar na habitual festa do PSD/M, que se realiza no próximo Domingo. Pelo terceiro ano consecutivo, Pedro Passos Coelho não prescinde do palco com moldura humana considerável na plateia, que o amigo Miguel Albuquerque lhe proporciona, no alto da serra. Em tempo de sondagens pouco animadoras – mesmo estando o primeiro-ministro sobre os efeitos abrasivos do grande incêndio que fustigou uma parte do País, o roubo ao Paiol de Tancos e a remodelação da sua equipa governativa – Passos Coelho não quer abdicar da ‘boleia’ regional para zurzir nas opções de António Costa na liderança do Governo. Compreensível e expectável. No entanto, muitos por cá, questionam-se sobre a mais-valia da participação do presidente do PSD na conhecida festa popular dos laranjas insulares. A sua presença e performance no Chão da Lagoa renderá votos ao partido nas próximas eleições autárquicas? O povo que lá vai ‘comer e beber’ deixar-se-á convencer pelas palavras do homem que ficou, irremediavelmente, associado a um dos momentos de maior aperto financeiro a que a Região esteve confrontada? Com ou sem razão Pedro Passos Coelho não deixará de ser o político que imprimiu à Madeira, na sequência dos muitos desvarios financeiros dos governos de Jardim, um programa altamente penalizador da economia regional, que se repercutiu, com mossa, na qualidade de vida dos madeirenses, que se viram confrontados com uma alta taxa de desemprego e com a falência de um grande número de empresas. Com ou sem razão o antigo primeiro-ministro foi inflexível na aplicação do garrote à Região. Eduardo Paz Ferreira, professor da Faculdade de Direito de Lisboa e presidente do Instituto Europeu, chegou a dizer, no Funchal, que o Governo da República tratava a Região, como Bruxelas trata Lisboa nos momentos de aperto financeiro. Isto é, com a ‘cenoura numa mão e com o chicote na outra’.

Passos Coelho, o primeiro-ministro que quis e foi ‘para além da troika’ e que ficou associado ao ‘enorme’ aumento de impostos sobre os trabalhadores, não colhe as simpatias de uma boa parte do PSD/M, que não reconhece no actual líder capacidade de mobilizar os eleitores regionais. Miguel Albuquerque, que foi apoiado pelo ex-primeiro-ministro na corrida à presidência do PSD/M, manteve-se indiferente e convidou o companheiro, o amigo dos tempos da ‘jota’ para, uma vez mais, vir discursar às bases laranja. Falará sobre a actualidade nacional, como se estivesse numa qualquer conferência em Lisboa ou vai debruçar-se sobre a autonomia regional, sobre as suas especificidades, os seus principais problemas e desafios futuros? Conseguirá ir além do óbvio?