Análise

Os trunfos do PSD e do PS

Paulo Cafôfo - o não filiado que manda no partido na Região - vai capitalizar ao máximo a conjuntura

Se dúvidas houvesse sobre a estratégia de Miguel Albuquerque para conquistar uma nova vitória eleitoral no próximo ano, elas estão completamente desfeitas. O alvo está definido: o presidente do Governo vai colocar todas as fichas no confronto com ‘Lisboa’, na defesa dos interesses da Região e da própria autonomia. As últimas declarações públicas, primeiro na entrevista que concedeu ao DIÁRIO e depois à margem da sessão solene do 25 de Abril na Assembleia Legislativa, comprovam o sentido da direcção. Eles, Governo da República e António Costa, são os ‘inimigos’ da Madeira e têm uma agenda político-partidária para entregar o poder a Paulo Cafôfo.

Miguel Albuquerque vai capitalizar à exaustão este filão a ver se rende votos. E vai exemplificar com os argumentos já conhecidos: juros da dívida, novo hospital, verbas dos subsistemas da saúde, mobilidade, etc. Os ‘inimigos’ da autonomia estão do lado de lá e há que combatê-los. A receita, como se pode conferir, não é nova e já foi esmiuçada pelo seu antecessor até mais não, até se perceber que o problema também residia nele próprio. Albuquerque está há pouco tempo no poder, mas parece que já está há muitos anos. Passa a imagem de governante fatigado e entediado, incapaz de corporizar uma onda de esperança, mesmo dentro do PSD, onde figuras de proa temem que a postura do líder provoque um sobressalto ou mesmo uma surpresa maior na noite eleitoral de 2019. Se é certo que existem muitas interrogações a pairarem no ar, ninguém, das filas social-democratas, se vai atravessar ao líder actual que, ou vence as eleições ou sujeita-se a uma convulsão interna que o deverá apear da presidência do partido, permitindo o ressurgimento de antigos dirigentes que já se tinham posicionado em 2015.

Quanto ao PS-M, vê, como já aqui se escreveu, a sua oportunidade de ouro para alcançar o poder, após décadas de sinuoso e atribulado caminho. Paulo Cafôfo - o não filiado que manda no partido na Região - vai capitalizar ao máximo a conjuntura, que lhe é favorável. Tem rédea solta, espaço próprio e agenda para explorar as fragilidades da governação do PSD-M e conta com o apoio da máquina nacional do PS e do próprio António Costa, com quem mantém uma relação próxima. O presidente da CMF vai jogar com isso para convencer o eleitorado de que consigo no comando será muito mais fácil resolver os problemas que afligem a Madeira há anos, nem que seja necessário ir a Lisboa almoçar com o primeiro-ministro e colocar, olhos nos olhos, as suas prioridades no menu do almoço. A táctica não é nova. Há uns anos atrás, nas eleições legislativas de 1999, António Guterres não se coibiu de trazer para a agenda política o naipe de contactos internacionais que coleccionava, especialmente na poderosa Europa de então, para diminuir o seu principal adversário, o líder do PSD, o menos conhecido Durão Barroso. Disse Guterres, que venceu as eleições de Outubro daquele ano, num debate televisivo, que o facto de tratar por tu diversos líderes da União Europeia seria determinante na resolução de diversos dossiers que estavam, na altura, em cima da mesa. Não se sabe se Cafôfo trata Costa por tu, mas antevê-se que vai jogar esse trunfo junto do eleitorado.

Sobre o futuro da Região e fora da partidarite política, convém que ambos, Albuquerque e Cafôfo, expliquem qual o respectivo posicionamento face aos grandes eixos centrais por onde passa o destino de todos nós, designadamente na questão da água, das alterações climáticas, na prevenção de incêndios, na questão demográfica e nas políticas para a terceira idade. É decisivo começar-se a debater cada uma destas temáticas.

P.S.: António Costa dedica parte do primeiro capítulo da sua moção ao congresso do PS de 25 e 27 de Maio, à Madeira. O secretário-geral defende uma “solução de governo (regional) estável e duradoura, em consequência de um projecto político abrangente...”. A mensagem é clara e perceptível quanto à extensão das expectativas e da possibilidade de alargar a outros partidos um entendimento que conduza ao poder.