Análise

Enrolando

Isto não vai com meias-palavras sorrisinhos cínicos e muito menos com a arte de enrolar

Diz o ‘Priberam’ que o verbo transitivo e pronominal que dá título a esta análise significa, entre outros, dar ou tomar forma de rolo, deixar ou ficar pouco claro ou confuso ou tentar enganar alguém. É a palavra que melhor significado encerra para definir as últimas semanas na vida da Região que, uma vez mais, entre avanços e recuos, não vê nenhum dos seus problemas estruturais resolvidos ou em vias de.

1.º: Orçamento do Estado para 2019. O documento que vai ser agora discutido na especialidade prevê a transferência de 400 milhões de euros para a Madeira. 12 horas depois de ser conhecido, o presidente do Governo Regional considerou que se tratava de uma “vigarice” e que os madeirenses tinham de “tomar posição” perante um orçamento que é uma “desilusão” para as aspirações do executivo. A Comissão Política do PSD-M corroborou a posição do líder, Pedro Calado anunciou que vai explicar as medidas com implicação regional em todos os concelhos, dado que o Governo da República não incluiu a Região no périplo que vai fazer pelo país para explicar, preto no branco, o OE2019.

O PS-M reagiu quase uma semana depois. Bloco de Esquerda e Partido Comunista: alguém conhece as suas posições face ao importante instrumento de planeamento financeiro? Alvíssaras! O assunto merecia mais e melhor debate, mas há um ruidoso silêncio, por diversos motivos de ordem táctico-partidária, como é bom de perceber. Cheira a votos.

2.º: Novo hospital. Alguém chegou a alguma conclusão sobre onde começa e onde acaba a responsabilidade de cada entidade? Em que valor se resume a comparticipação do Estado? O que são 50% do custo total da obra? Em matemática, pelo teor da discussão que se instalou na praça política, 2+2 podem não ser 4! Sabemos tudo sobre este dossier? Ou há ainda muito por explicar? ‘O Diabo está nos detalhes’!

3.º Mobilidade. Vai ser ou não revista? Grande confusão em que está mergulhado este tema fundamental para os residentes. Quais as últimas novidades? O ministro das Infraestruturas, o mesmo que não responde à convocatória da Assembleia Legislativa Regional e que esteve cá na passada quinta-feira, numa visita meia-secreta, meia-pública, defende que a gestão do subsídio seja “regionalizada”, atirando as culpas para o anterior governo de Passos Coelho e de Miguel Albuquerque. Conhecemos os argumentos, senhor ministro, mas e então, como ficamos? Deixa-se o problema marinar mais uns meses, que em 2019 há eleições nas duas frentes! Pedro Marques é um político habilidoso e, ou estou a ver mal o filme, ou o governo da República vai adiar o quanto puder para o lote de promessas a apresentar na campanha eleitoral, soluções para os problemas pendentes.

4.: Falta de medicamentos no hospital. Alguém lucra com isso? Não! Não nos tomem por parvos, nem nos tentem convencer de que os problemas da saúde na Madeira são coisa do passado. Há falta de remédios, de material, de médicos.

Da discussão nasce luz, mas parece que os actores políticos que nos representam não têm muito interesse nisso. Esta forma de enrolar o cidadão serve apenas para adiar a resolução dos problemas, numa gestão partidária e eleitoral do interesse público, que não nos serve.

Pelo menos tenham o cuidado (ou a maçada) de explicar com clareza o que nos espera, com o que podemos contar. Deixem os entretenimentos políticos para os militantes que já sonham com um lugar na lista eleitoral (e há três no próximo ano a preencher). Isto não vai lá com meias-palavras, palmadinhas nas costas, sorrisinhos cínicos e muito menos com a arte de enrolar.