Análise

E não acontece nada?

1 O presidente da Ordem dos Médicos veio, em entrevista ao DIÁRIO, traçar de negro a situação da saúde na Região. O diagnóstico foi duro e devastador para quem gere o sector, com o Governo à cabeça. As considerações estão à mão do leitor. António Pedro Freitas, que representa a classe, da qual não vi nenhum elemento se desmarcar publicamente, acusou o sistema de mascarar dados estatísticos, de intimidar e amordaçar os profissionais de saúde,. Sistema que está mergulhado numa apatia generalizada, assente numa gestão bicéfala, num desgoverno. Os adjectivos são muitos e infelizmente pouco abonatórios para um serviço que deveria estar sempre ao lado dos doentes e dos que mais necessitam.

As críticas ao sector são extensas e continuadas. De médicos, a enfermeiros, passando pelos técnicos superiores de diagnóstico. Há um coro cada vez maior que se faz ouvir ao mesmo tempo que as notícias detalham, impiedosas, os dramas dos doentes que desesperam por um medicamento que acabou, por uma consulta de especialidade que demora, por uma cirurgia de anos. Ao que parece até os recipientes destinados à recolha da urina para análises clínicas faltou num destes dias. Perante o cenário, perante as evidências, os testemunhos, o que faz a entidade a quem cabe gerir o interesse público? Diz que o nosso sistema de saúde é “um sucesso”. Em que ficamos? Estamos a ver o filme ao contrário ou chegamos ao ponto de negar o que nos entra pelos olhos dentro diariamente?

Quando a população dá o poder a um determinado grupo político é para que a gestão da coisa pública seja responsável e criteriosa. Para que os serviços funcionem em prol da sociedade. Esta saúde não serve aos madeirenses. Não adianta remediar o que não tem remédio. Revejam programas, estabeleçam prioridades, mudem quem têm de mudar. Actuem.

O pior que pode acontecer é mascarar os problemas, tentar justificar o injustificável, jogar com as palavras, culpar os que têm por missão informar e deixar a “coisa” correr.

2. O ministro das Infraestruturas e do Planeamento fez declarações, na Assembleia da República, sobre o modelo de mobilidade, completamente disparatadas. Não se percebeu muito bem o alcance do que disse Pedro Marques, quando defendeu que o subsídio às viagens deve ser da competência regional. Convém alguém recordar-lhe que os portugueses que vivem nas regiões autónomas regem-se pela mesma Constituição. E a lei fundamental é clarinha: há um princípio da continuidade territorial que tem de ser respeitado, custe isso dinheiro ao Estado ou não.

A grande questão do modelo de mobilidade é complexa, uma vez que as companhias aéreas estão a ganhar bom dinheiro à custa do erário e não querem abdicar disso. Mas cabe ao Estado assegurar que todos os portugueses têm as mesmas condições de circulação em território nacional, pressionando a TAP a baixar o preço das tarifas e atraindo novas companhias a operar a rota.