Professores em luta

Li a carta da leitora Carla Santos, suponho também que professora, ontem publicada no DN, sob o mesmo título desta minha resposta. Decidi escrevê-la no intuito de dar outra visão sobre as mesmas questões evocadas.

Destas apreciações vou retirar os aspetos relativos aos comentários sobre o caráter do secretário regional de Educação, bem como as considerações de caráter político e partidário, por as considerar secundárias.

O essencial é saber-se se Carla Santos tem razão nas questões que dizem respeito aos professores. Por exemplo, quando escreve que todas as categorias de professores e todos os sindicatos se uniram, não está a omitir que os assuntos em discussão não dizem respeito a cerca de 50% dos professores, por fazerem parte dos quadros de escola?

Quanto aos sindicatos, tem a certeza que todos se opuseram às propostas da Secretaria? Sei que aqueles que não subscreveram qualquer acordo não o terão feito exatamente pelas mesmas razões, e sei ainda que houve sindicatos que deram parecer favorável ao acordo.

Por outro lado, não saberá Carla Santos que os professores contratados na Região Autónoma dos Açores só vinculam ao fim de 10 (dez!!!) anos, o dobro do tempo proposto na Madeira? Não terá utilidade para esclarecer esta questão, tentar perceber-se por que razões governos com orientação política distinta, como são os da Madeira e os dos Açores, têm tempos distintos para a vinculação dos professores, em ambos os casos superiores aos do Continente, mas com o dobro do tempo nos Açores?

Era isto que esperava ver esclarecido quando comecei a ler a carta de Carla Santos. Mas no final fiquei com a mesma sensação do verão de há três anos, quando foi lançado o projeto das ‘Turmas +’ – muita conversa, muita oposição, muita declaração, mas quando começaram a aparecer os resultados os críticos remeteram-se a um silêncio envergonhado, quando no mínimo deviam um pedido de desculpas por tudo o que tinham dito.

Outra questão que gostaria de ver esclarecida cabalmente e não explicada apenas nas entrelinhas é qual terá sido a limitação à atividade sindical e à lei laboral nos preparativos sindicais da manifestação. O que veio escrito é muito pouco concreto e, assim, não passa de uma acusação infundada. Dêem-me factos concretos: locais, horas, ações, documentos. Assim é só conversa.

Por fim quero deixar a seguinte leitura, que resulta tanto do escrito de Carla Santos como das posições sindicais: o problema que está na origem dos protestos é apenas uma perspetiva do que, dos seus pontos de vista, irá acontecer.

Mas acontecerá mesmo? Será assim mesmo? Ou estarão, sub-repticiamente e alinhados com a contestação a uma área vital da governação regional, a tentar criar a ilusão de que tudo vai mal na Educação, com objetivos políticos que nada têm a ver efetivamente com os interesses dos professores?

Com o mesmo direito de opinar, acho que é isto que está a acontecer. E também tenho a opinião de que há dirigentes sindicais que não passam de serviçais da intersindical comunista, e por tal razão obedecem à convocatória para a Madeira de uma manifestação que não tem nada a ver com a nossa realidade.

Pois é, mas se não for assim, como é que este pessoal vai poder continuar a ir a Lisboa, às reuniões que acabam em jantaradas bem regadas e visitas extraordinárias a amigos e familiares, tudo à conta das quotas dos associados (que são cada vez menos)?

Carlos Santos