Florestação, Pastorícia e os Técnicos Competentes

Como tenho pena dos pobres técnicos agrários, silvicultores, e florestais proibidos de falar. E tudo por causa dos políticos, que durante décadas se acagaçaram, e decidem com base nos conselhos de pessoas estranhas, malformadas, sem quaisquer conhecimentos sobre o assunto. É bom também saber que no rol de pessoas sem conhecimentos estão os professores, suponho que da Universidade. Interessante e esclarecedora é a visão de que biólogos estão em igualdade de desconhecimento com os técnicos de contas no que diz respeito à natureza. Este discurso nada tendencioso e que vê nos técnicos agrários, silvicultores, e florestais os únicos detentores da verdade absoluta em relação à florestação e pastorícia, vindo de alguém que é engenheiro agrónomo e que toda a vida defendeu a pluralidade democrática na Região, é deveras estranho. É igualmente estranho que o tiro saia contra o professor e o técnico de contas, aqueles que segundo o desejo explícito do autor, irão ganhar 2019.

Sátira à parte, o respeito que me merece a pessoa e mais ainda o percurso de vida do autor do artigo de opinião no DN de terça-feira passada, obriga-me a responder de forma séria. É claro para todos que os biólogos percebem de ambiente, que têm formação e competência adequada. Senão esta profissão não seria uma área académica de reconhecimento mundial, com uma Ordem profissional em Portugal, e não seria lecionada em quase todas universidades portuguesas e também na Universidade da Madeira. É igualmente claro que técnicos agrários, silvicultores, e florestais são profissões com cursos universitários igualmente reconhecidos. A diferença entre uma e as outras é principalmente a tónica da abordagem: os segundos são técnicos de produção, o enfase está em como produzir mais e melhor, seja árvores, gado ou mesmo vinho. Os primeiros, ao contrário, abordam o ambiente e a sua sustentabilidade em geral. Ambos têm mérito, ambos são necessários, ambos têm a sua área de atuação.

A orografia na Madeira não permite muitas áreas de produção intensiva. Nas outras áreas a melhor defesa das populações é a manutenção dos serviços da natureza. E aqui os biólogos têm algo a dizer. Quanto à reflorestação, ela foi de fato efetuada na Madeira por florestais, os tais técnicos ignorados, e não por biólogos. A própria Direção Regional das Florestas foi longamente dirigida por um florestal. Biólogos teriam dado importância à sucessão ecológica. Mas aceito e subscrevo a crítica a governos atuais e passados de que a reflorestação foi feita com poucos recursos e dando-lhe pouca importância política. E aceito a ideia de que a preparação do terreno é importante.