Zeca Afonso

Passam hoje 30 anos sobre a data da morte de Zeca Afonso. Ícone incontornável da canção coimbrã, foi acima de tudo um homem de liberdade , democracia e solidariedade, por que lutou, enquanto estudante , professor ou simples cidadão. As suas armas foram a viola e a música municiadas por palavras que disparava com a cadência harmoniosa de uma balada ou de uma canção de intervenção. Tive a felicidade de assistir a alguns convívios de estudantes do jardim da Associação Académica de Coimbra, animados pela presença e as canções do Zeca , nos anos 60 do século passado. Era a altura das lutas académicas, que se estendiam de igual modo pelas outras universidades, mas também uma oportunidade para reivindicar a democratização do ensino, do país e o fim da guerra colonial. Ouviam-se as suas canções , algumas vezes na companhia do Adriano Correia de Oliveira, que contribuíam para manter viva a luta generosa de uma juventude por uma sociedade livre e democrática que ambicionava.

A criação musical de Zeca Afonso não se limitou, no entanto, a este tipo de canções. Fez também adaptações, muito felizes, de música popular portuguesa e africana que ainda hoje se ouvem com o mesmo agrado de sempre.

O seu nome ficou ligado ao 25 de Abril, através da sua canção Grândola Vila Morena que serviu de senha para a saída das tropas, em direção ao Terreiro do Paço dando-se, com isso, o inicio das operações militares que puseram fim ao regime ditatorial que então vigorava em Portugal.

No pós 25 de Abril, Zeca Afonso manteve sempre uma postura revolucionária muito própria, preservando a sua independência face a partidos e movimentos que foram surgindo um pouco por todo o país. Por isso, nem sempre foi bem compreendido e aceite, por parte de alguns seus companheiros de luta que o quiseram conquistar para posições mais sectárias, com as quais não concordava.

Deixou um enorme legado histórico, cultural e artístico que não podemos ignorar.

Contamos, dentro de pouco tempo e a pretexto da passagem do trigésimo aniversário da sua morte, fazer uma pequena evocação da sua obra.

António Macedo