A factura da tolerância

Só hoje posso voltar ao tema “tolerância do dia 12” pois tive que aguardar a factura relativa ao serviço de enfermagem a que tive que recorrer numa clínica privada nesse dia em virtude do centro de saúde estar encerrado apesar de se tratar dum dia normal de trabalho. Os meus sogros, a caminho de completarem um século de idade mas muito debilitados, têm necessidade de serem assistidos de forma bissemanal por pessoal especializado e, por azar, um desses dias é precisamente 6.ª feira, dia de greves gerais, ou do sector, ou de zelo, etc. Sem necessidade de entrar em pormenores, imaginem alguém com problemas nas vias urinárias em que não se pode deixar o problema para a próxima visita, 3.ª feira, tiveram que recorrer ao privado, apesar das dificuldades financeiras devido às baixas reformas. Ultrapassado o problema e em conversa com a profissional, ficámos a saber que estava completamente exausta pois tanto ela como os colegas não tinham mãos a medir para satisfazer tantas solicitações, o que não é difícil imaginar. Em casos similares, não seria de estranhar que outros logo associassem esta tolerância a um frete aos privados. Mas não penso nisso. O que penso fazer, isso sim, é pedir que o senhor primeiro-ministro tire nas novas oportunidades um curso low cost de enfermagem para que na próxima benesse que queira dar aos funcionários públicos, pela certa que é a si que recorreremos seguindo o exemplo dum conhecido jornalista que lhe entregou os quatro filhotes no dia da tolerância e que, segundo noticias, o senhor terá desempenhado exemplarmente o papel de babysitter e não terá apresentado factura. Por tudo isto, e exceptuando os beneficiários directos da tolerância, causa-me estranheza que muitos, incapazes de despirem a camisola do partido, defendam tal medida demagógica e eleitoralista que prejudica milhares de cidadãos. Para esses, aqui deixo o provérbio “pimenta no rabo do outro não arde”. É que para quem já paga o SNS, custa muito receber estas facturas extra e nada meigas.

Jorge Morais