Artigos

O ano da morte de Carlos Paredes

Há quem nasça para nós quando morre. Cada vez mais expostos a uma cultura global, a nossa atenção é disputada intensamente. Somos incapazes de acompanhar a velocidade e aceitamos, que remédio. Descobrir um cineasta, um escritor ou um músico não raras vezes decorre da curiosidade que desperta com a notícia da sua morte. 2004 foi o ano da morte de Carlos Paredes. Verão, as primeiras férias grandes depois do ingresso na faculdade em Lisboa. 18 anos se passaram. Não foi um verdadeiro nascimento, mas um despertar vivo, intenso. “Verdes Anos” será a música incontornável, todos já ouvimos, nem que seja numa qualquer peça jornalística na televisão. Desde então já levo muitas horas de Carlos Paredes e do seu talento singular, uma escolha recorrente para estudar. Nasci tarde demais para conhecer o seu trabalho em vida, mais sorte tiveram os que já cá andavam. Ficou a obra e uma história cheia, mesmo em tempos difíceis. Cheguei a tempo para ver Ronaldo ou ouvir Coldplay irão apontar-me um dia.

A peneira do tempo é um algoritmo pouco manipulável, mas há crivos a montante que limitam o que fica sujeito à erosão final da memória colectiva. Felizmente haverá sempre algo que nunca conheceremos mas que também não lamentaremos tal impossibilidade.